quarta-feira, 30 de junho de 2010

Bookstore




“Certos lugares que me davam prazer tornaram-se odiosos. Passo diante de uma livraria, olho com desgosto as vitrinas, tenho a impressão de que se acham ali pessoas, exibindo títulos e preços nos rostos, vendendo-se. É uma espécie de prostituição.”

(Graciliano Ramos, In: Angústia)

terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu fim de semana foi assim:

">Acordei no sábado 5 horas da manhã. Eu tenho aula da pós graduação aos sábados pela manhã. A aula é em outra cidade e preciso pegar o ônibus que passa as 6 horas no ponto. Como aqui não tem ônibus de linha, se eu perder esse, só 8 horas e aí, já é tarde. Ando passando todos os meus fins de semana na casa de amigas. Saio de casa para não precisar dividir o mesmo ambiente que ele. Na sexta a noite, decidi que não iria sair neste fim de semana, pois estava simplesmente cansada. Cansada do trabalho, das grosserias do chefe, do trabalho em casa, das monografias para fora, do meu casamento falido, cansada. Iria deitar num quarto escuro e fingir a inexistência da existência o tempo que pudesse.

Desci então, 50 km adiante, pois uma amiga que vinha da cidade ficou de passar na entrada da cidade por volta das 7 horas para de dar carona até a aula. Mas ela não vinha...8 horas, 8 e meia...senti o frio da alvorada nas montanhas entrando em minhas narinas e pela gola do casaco, e não gostei. Eu também não gostava da maresia que fazia a mesma coisa nos pontos de ônibus da orla da praia, nunca vou ficar satisfeita. O melhor seria esquecer que existe manhã e ficar apenas com o entardecer. Ela pareceu mais tarde, me esqueceu no ponto e depois voltou para me pegar. Essa minha amiga gosta de me dar bolos, mas ela me lembra muito a mim quando tinha a idade dela.

Fui a aula. Nós duas, eu e a amiga fomos tomar um café e ela me convenceu que eu deveria ir com ela para cidade. Que meu plano para o fim de semana se transformaria numa angustia insustentável e que ele não merecia sequer minha presença. Então fui.

Mas como não havia levado roupa, nem escova de dentes, precisei improvisar. Sou do tipo de pessoa que, se me der um protetor solar, chego até ao Chile de carona. RS. Parei numa loja, comprei duas calcinhas, parei em outra, comprei um sapato. Fui a outra e comprei um vestido. Tá bom, dois vestidos. RS (eram lindos, o que eu podia fazer¿).Comprei uma escova de dentes e bain AID, pois os sapatos novos provavelmente variam hematomas nos meus largos pés.

Aí te liguei para te chamar para um café no domingo. Eu sabia que se dependesse da minha amiga eu não tomaria café no outro dia e eu não gosto de manhãs solitárias de domingo. Embora eu sempre me lembre que você tem filhos e que normalmente, manhãs de domingo são dos filhos. Mas como acho estranho o fato de você nunca falar neles, talvez não houvesse problemas em tomar um xícara de café comigo.

Bem, sem grandes planos para a noite, mas com a autoestima devidamente abalada pelos acontecimentos da semana, resolvi que iria sair com as meninas. Então, em busca de um olhar que fosse, para tentar melhorar meu amor próprio, tentei ficar o menos lastimável que pude. Coloquei meu scarpin azul, passei meu batom vermelho e fui. Mas não obtive sucesso. O mais próximo de um elogio que recebi foi de um conhecido arquiteto gay que disse que eu tava a cara da Deneuve em Belle de Jour. RS RS Ele tava bêbado, claro.

Para terminar, a mesma amiga citada anteriormente, já bêbada, resolve contar um “causo” de 2005, sobre como eu tinha saído com um estudante de biologia em Porto Alegre e feito sexo com ele nas margens do rio Guaíba, durante o fórum social mundial, para o meu constrangimento e o constrangimento da outra amiga também presente que queria ter “dado” pro cara lá (ela ficou 1 ano sem conversar comigo por causa disso). Eu era um jovem estudante de História, acampada com mais 40 mil pessoas de todas as partes do mundo. Eu podia ter dado para quem eu quisesse, essa é a verdade.

Depois disso, a moça que vos fala, ainda na base do suco de laranja, mandou vir várias e várias doses de “La Negrita”, porque depois disso tudo, só meu amigo “o rum” para me confortar. RS

Se melhorou¿ não, não melhorou. Mas depois de 8 doses de “La negrita”, eu tava cantando samba junto com o “voz e violão” do boteco...rs Aí, 4 horas , parei na lanchonete, tirei meu sapato, pedi um x egg bacon com banana e uma coca cola com gelo.

Cheguei a casa da amiga, deitei e dormi o sono dos justos. Acordei com uma leve dor de cabeça. Desci, tomei meu café sozinha. Andei até o parque e li Florbela Espanca. Peguei um ônibus e voltei para o frio.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Abelardo e Heloísa

Abelard et Heloise - iluminura medieval.





Eu fui uma criança estranha. Eu tinha insônia (e não acredito hoje que meus pais não tenham percebido que algo não ia bem), dessa forma, assistia a todos os filme do corujão, inclusive os que poucas crianças de 8,9 e 10 anos se interessariam antes de trocar de canal. Assim aconteceu com os livros lá de casa também, mas essa é outra história. Só para ter uma idéia, quando tinha uns 9 anos, meu filme predileto era Lawrence of Arabia, que vi em uma as solitárias noites na sala enquanto passava muito mal devido a absurda quantidade de torta de pão que comi numa festinha de chá de bebê (nunca vou esquecer de quanto passei mal naquela noite).


E em uma dessas longas noites, assisti "Em Nome de Deus" (1988).

Sinopse:No século XII, Abelard (Derek De Lint), um respeitado filósofo e professor em Paris, é contratado para ser o tutor da bela e inteligente Heloise (Kim Thomson). Rapidamente eles se apaixonam, mas precisam manter seu relacionamento escondido de todos porque Abelard está comprometido com o celibato.¹


Foi a coisa mais bonita que eu já tinha visto. Acho que deve ter sido o meu primeiro contato com a "estética" medieval, o que os produtores e diretores do filme achavam ser, claro. Acho que esse filme foi um dos grandes motivos pelos quais sempre gostei do tal "amor proíbido, amor imposível, amor romântico".

Este filme continou sendo para mim um belo filme e o é até hoje. Mas foi uma grande descoberta saber que era baseado num livro: "Correspondências". Na época, internet era coisa remota na minha vida. Só vivi a inclusão digital quado entrei na faculdade. Assim sendo, demorou uns 2 anos para consegui-lo e confesso, que "desilusão". Eu nunca tinha estudado Idade média e não tinha noção que 1000 anos fazem diferença em alguns aspectos (risos).Tinha em mente uma história muito mais "romântica" que a Idade Média Européia podia comportar. Lembro que fiquei com raiva do Abebardo já na primeira epístula, pois ele falava de Heloísa ao amigo com desdém, imaginava eu. De mandar Heloísa receber os votos num convento depois da castração (para quem aind anão viu o filme ou leu o livro, Abelardo é castrado, por ter comido e engravidado sua já esposa Heloisa).
Porra Abelardo! Vai obrigar a mulher a entrar num convento só por causa de uns dois testículos a menos?! E o pequeno Astrolábrio (o nome do filho deles era esse), vai ficar vivendo na casa da tia sem os pais?! Mulher não liga só para sexo não! Cadê o amor?? Quer dizer que era só amor de pica mesmo né seu safado...

Será que o nascimento do amor cortês, tão enfatizado por André Capelão² ficou apenas na Literatura? Além de tudo, a história toda era muito mais cristã do que eu imaginava e essa coisa de "irmão em Cristo" para cá, "irmã em Cristo" para lá também enche o saco.
O pior mesmo foi saber que não se sabe se esse amor existiu mesmo e q o livro, que eu tinha como fonte primária³ da melhor qualidade, podia não ser verídico...

De qualquer forma, impossível é não chorar ao ler heloísa, que parece amar sozinha:

"Fujo para longe de ti,
evitando-te como a um inimigo,
mas incessantemente
te procuro em meu pensamento.
Trago tua imagem em minha memória
e assim me traio e contradigo,
eu te odeio, eu te amo."
Carta de Abelardo a Heloísa.

"É certo que quanto maior é a
causa da dor, maior se faz
a necessidade de para ela
encontrar consolo, e este
ninguém pode me dar, além de ti.
Tu és a causa de minha pena,
e só tu podes me proporcionar conforto.
Só tu tens o poder de me entristecer,
de me fazer feliz ou trazer consolo."
Carta de Heloísa a Abelardo

Força amiga, homem não presta mesmo...rs



*****Download*****
"Em nome de Deus" (torrent com legenda)
http://www.megaupload.com/?d=25LMWAL0

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1 - disponível em:http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.asp?produto=11697.
2 - ANDRÉ CAPELÃO. Tratado do Amor Cortês. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

3 - Fonte primária é um termo utilizado em várias disciplinas. Em historiografia, uma fonte primária (também chamada de fonte original) é um documento, gravação ou outra fonte de informação, como um documento escrito ou uma figura por exemplo, criado no tempo em que se estuda, por uma fonte autoridade, geralmente uma com conhecimento pessoal direto dos eventos descritos. Serve como fonte original da informação sobre o tópico. Fontes primárias são distintas de fontes secundárias, que frequentemente citam, comentam sobre, ou constroem conclusões baseadas em fontes primárias. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fonte_prim%C3%A1ria



Não, não irei postar iluminuras medievais aqui. É claro que, já que tenho um grande interesse por arte na Idade Média, haverá muitas iluminuras sim. Mas o propósito está além disso.

Vivo numa cidade do interior. Uma cidade que vive de turismo, onde todos que não são daqui dizem querer morar. Eu, vim para cá numa fuga. Fugi nos meu passado, fugi dos meus medos, fugi da vida que achei não poder continuar, fugi de mim mesma. Comecei uma "vida nova". Consegui aqui o que não seria mais possível onde morava. Consegui o respeito, a boa índole, a sanidade. Porém, aqui, estou só. Eu sorrio para as pessoas, tenho colegas, converso banalidades, mas não sou eu mesma. Eu não sinto falta da vida antiga. SInto falta de ter com quem dividir uma xícara de café e uma conversa de noite inteira. De rir sobre o que ninguém mais ri.

Já tentei escrever várias vezes, mas sempre acho que vou continuar sozinha. Observo sempre outros blogs e penso em como as pessoas que os escrevem se sentem escrevendo para o vazio virtual, pois é uma verdade que raríssimos blogs são realmente lidos. O pensamento que me vinha a cabeça era: "por que diabos eles continuam? Se ninguém lê, por que não fazerem um simplesmente umdiário?" Isso me intriga muito.

Claro que o fato dos raros blogs serem lidos não o fazem serem bons blogs. Mas isso quem diz é uma pessoa arrogante e pretenciosa. Dessa vez, não esperarei ser lida. Quero simplesmente escrever.